Minha avó não sabia escrever, mas sabia desenhar um ramo de café.
Quantas vezes eu, muito pequeno, ela se sentava na cadeira, eu ficava ao seu lado e ela começava a desenhar um ramo de café no papel de pão. Eu acompanhava aqueles traços que germinavam muito rápido sobre a mesa, deles saíam brotos e até frutos.
Ela dizia que era café. Eu não entendia muito bem porque o café é preto e ela dizia que era para colorir o desenho em verde e vermelho. Enquanto eu pintava, ela ia fazer café.
Algumas vezes tentei ensiná-la a escrever o seu nome. O alfabeto não entrava na cachola, as sílabas não se juntavam, o nome não escrevia.
Daí tive a ideia: “Vó, desenha um ramo de café pra mim? Pra eu copiar porque não sei fazer”
Ela desenhou o ramo florido, as frutinhas e encheu a folha com os segredos do melhor café do mundo.
Depois, eu escrevi seu nome no papel. Disse que era o seu nome. E que ela podia copiar. Fazer igual.
Então, com muito jeito e muito sabor quentinho de café, ela desenhou o nome mais bonito que podia florescer:
MARIA, o nome da minha avó querida.
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