É comum encontrarmos fotos — dos tempos de Carioba —nas quais os patrões, sejam os Müller ou os Abdalla, estão dançando com moças nos famosos bailes ou presentes nos churrascos e almoços de confraternização com os operários da fábrica. Sempre o patriarca, o patrão, o provedor em primeiro plano, em destaque, ao centro da foto. E os operários e moradores aglomerados, em volta, felizes e satisfeitos. Pela atenção recebida, pela presença ilustre, pela grandeza do patrão em se misturar com os empregados em suas festas.
Na primeira fase da Fábrica de Tecidos Carioba, na era Müller, a construção da vila e a exaltação de seus costumes era para os moradores motivo de orgulho, regozijo e algo próximo à simples felicidade e comunhão entre famílias, sempre agradecidas pelo emprego, pela moradia e pela vida comunitária. Para os proprietários da fábrica — dos teares às moradias tudo era o capital da empresa — a vida comunitária naqueles padrões era um escudo protetor à contaminação e a influências dos movimentos sindicais, políticos e históricos da época. Na era Abdalla, quando havia muita motivação política nas ações dos proprietários, o envolvimento e a proximidade dos patrões revelavam um populismo que se enraizava e dele tiravam seus votos e dividendos.
Quando as crises da indústria têxtil — de produção, de mercado, de competitividade e de financiamento — atingem a fábrica e seus negócios, o patrão se distancia dos comitês de reivindicação, das greves dos operários, das confraternizações e de todas as raízes culturais erguidas ao longo de décadas. Toda a nostalgia vivida não é suficiente para impedir que os proprietários dos meios de produção, os detentores de maior força naquela relação de poder entre capital e trabalho, optem por proteger seus bens, não encontrando soluções razoáveis para a fixação dos moradores no local que, mais que uma vila operária, se transformara em uma vila histórica, com laços sentimentais entre famílias e toda uma comunidade.
Portanto, hoje, quando observamos uma dessas fotos, conhecendo o final da história de Carioba, mais do que uma imagem registrando uma relação de amizade e interação entre patrões e empregados, o que podemos ver revelado naqueles instantes perpetuados para as gerações futuras é nada mais que uma demonstração das relações de poder de uma época. Relações de poder que se davam tanto pelo relacionamento quanto pelo abandono.
NOTA: Fotos obtidas no blog Carioba: O espírito do lugar. www.oespiritodolugar.blogspot.com/p/bairro-carioba.html.
Foto 1 – Hermann Müller juntamente com os operários da Fábrica de Tecidos Carioba.
Foto 2–1955 – Baile das Princesas – Ao centro o sr. Nicolau Abdalla.
Gilberto Hackmann
Comentarios