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VÓ, o LULA GANHOU

17 de dezembro de 1989 - 2o turno de eleições presidenciais. Já era por volta das dez horas da noite, quando eu e minha namorada pudemos entrar no quarto do hospital onde minha avó, Maria, iria passar a última noite de sua vida. O Brasil vivia um intenso e cruel processo eleitoral, que tantas indignações trouxe à minha querida avó. Embora não esperássemos que não mais a veríamos, entre as poucas frases de carinho que passamos para ela, naquela noite deixamos uma frase profética de esperança:

- Vó, o Lula ganhou.

Não tinha. Collor e as elites haviam acabado de roubar do povo brasileiro a grande chance de mudanças efetivas para o Brasil. O terror e o medo e a mentira haviam vencido.

Nestes 13 anos que se passaram, quando me lembrava daquela noite, refletia se fizera o correto. Afinal, não era verdade que o Lula havia vencido as eleições. Mas era verdade que a esperança continuava viva, mesmo naquela noite, continuava viva.


27 de outubro de 2002 - Muita coisa mudou em minha vida. Os dois filhos que tive minha vó não conheceu, que pena. Mas pôde conhecer aquela que seria a mãe deles. E a semente de esperança não parou no tempo e a história rapidamente tratou de se escrever para voltar à página que deixou de ser escrita em 1989. O medo bem que foi novamente lançado e usado contra a esperança. Mas, desta vez, a esperança venceu o medo. Meus filhos de quatro e de dois anos vão poder ver o início de um novo Brasil. Nada entendem do que se passou, nada entendem o que significa este momento histórico que hoje se escreve, quando, ao contrário das duas últimas eleições presidenciais, o povo saiu às ruas para festejar.

É certo que hoje a esperança que temos é uma esperança que nos faz olhar para trás, que nos chama a recolher lágrimas derramadas por tantos companheiros. Teremos que aprender a olhar para a frente e a construir o Brasil dos nossos sonhos. O primeiro sonho aconteceu - agora temos que reaprender a sonhar, a sonhar de novo. A esperança nos dá esse direito.

Quando fui votar neste dia, levei meu caçula. A foto do Lula apareceu na tela e ele exclamou: "O Luia!" Em poucos segundos abençoei o futuro presidente, e apertei a tecla verde de esperança. O Enrico rapidamente apertou também. Ele faz parte, ele confirma a esperança.

Seria maravilhoso se um governo pudesse criar condições favoráveis para que toda criança de seu país pudesse nascer com saúde, ter uma infância digna, estudar, se alimentar... Não sei se o próximo presidente conseguirá isso, mas minha esperança é que agora tenhamos alguém que se dedique a isso, porque viveu na pele o que foi não ter infância, quem sabe... não ter esperança. Não sei se o próximo presidente se deslumbrará com o poder e esquecerá de seu povo. Acho que não. Mas isso não importa agora, o que importa é que esse povo está lançando fora o medo e vai abraçar os seus sonhos. Deus está restaurando os nossos sonhos e eles começam quando pisamos no medo e abraçamos a esperança, assim como quando pisamos no mal e abraçamos a Cristo, a Esperança. Quando deixamos de olhar para nós mesmos e nos vimos como parte de uma nação.


(artigo publicado em 10 de novembro de 2002, logo após a primeira eleição do presidente Lula).

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