Estremeço em cada esquina
Só de imaginar que o acaso
Reserva-me uma traquina.
Meu peito bate apressado
E minhas pernas patinam:
Quem sabe vem do outro lado
A tão esperada menina?
Declamarei um "oi" ou um "olá"?
Um sorriso ou cumprimento;
Haverá vida em nosso olhar
Ou ambos, por um breve momento,
Deixarão o semblante corar
E o corpo, em estremecimento,
Perder-se num quase apagar?
Então, sinto uma estranha certeza...
Uma sombra - nervosa - anuncia
A aproximação de uma princesa
Que o pobre esperara todo um dia.
E ela, com simulada destreza,
Desfaz o encontro, que não principia.
No ar, um sabor de indelicadeza.
Tudo se confunde. Nem um só gesto.
Cada um ser fiel em seu caminho
Como se apenas isso fosse o certo.
Não somos estranhos como vizinhos
E colocamos tudo em desertos.
E nossa vida, num pergaminho,
Enrola-se em um diário só a nós aberto.
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