Boas meninas são magras pelo namorado
Boas meninas leem por prazer requintado
Boas meninas veem o que não compreendem
e nada perguntam por educação
Boas meninas são religiosas para agradar ao pai
Boas meninas são educadas para agradar a mãe
Boas meninas se vestem bem
Boas meninas são muito bonitas
Porque boas meninas são o troféu do namorado
Boas meninas gemem no sexo para a autoestima do rapaz
Boas meninas deixam o homem no comando
Boas meninas não envergonham a família
Boas meninas se afogam em silêncio.
Andressa Tabaczinski é minha mentora de escrita criativa. Suas orientações, análises sinceras e seu rigor literário tornaram o meu livro, prestes a ser lançado, Carioba - As tramas do algodão muito melhor do que ele poderia ser não fosse por ela.
Quando soube que o seu primeiro livro Crisálida iria ser publicado pela Rocco em novo título e roupagem, eu me alegrei muito com sua conquista e reconhecimento. Pelo talento, pelo conhecimento, pela profundidade de suas análises da escrita.
E, ao ler Boas meninas, entendi que a Rocco premiava, com a publicação, uma obra de ficção contemporânea muito bem escrita, eletrizante, envolvente e que prende o leitor nas angústias e na intimidade da protagonista.
A boa menina da história não confronta as contradições da sociedade em que vive ou da família disfuncional que a prende. Ao fugir das contradições e se encontrar com sua própria intimidade, descobrir a coragem para ser a mulher que é, ela desnuda as contradições, demole as estruturas, denuncia a hipocrisia sendo e agindo como ela se descobre como é.
A moralidade muitas vezes revela sua face destrutiva por não suportar a felicidade de uma boa menina.
Se a felicidade da boa menina escandaliza uma família tradicional, só lhe resta afundar em silêncio até que desapareça misteriosamente. Para alívio da sociedade moralista.
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