A senhora sempre dizia que não gostava de cozinhar. Mas todos apreciavam a sua comida. Quando os irmãos e cunhados se reuniam aos domingos, por mais que alguém trouxesse o frango assado ou, muito de vez em nunca, uma carne assada ou uma maionese, eram o seu macarrão e o molho de tomate as grandes estrelas do dia.
Talvez não se fabriquem mais aquele macarrão ou não se vendam mais aqueles tomates. Não fossem as lembranças e as memórias, o sabor teria se perdido. Eu me lembro tão bem de, quando criança, esperar o molho ficar pronto e ser despejado na travessa do macarrão. Daí a senhora me passava a panela e eu a limpava com os miolos de pão.
Tínhamos inventado um antepasto sem saber.
No Natal, era sua farofa o presente da festa. Nas datas especiais, as homenagens eram para o seu charlote, com bolacha champanhe. No dia-a-dia era o ovo com gema mole e os bifes fritos com óleo espirrando pela cozinha.
No meu último ano de solteiro, ainda morando juntos, os dias especiais eram aquelas terças-feiras em que eu dava aulas até depois do meio-dia e vinha depressa para o almoço antes de ir ao trabalho. Mal me sentava à mesa, naquela copa impregnada de lembranças e histórias, e era servido como um rei.
A senhora trazia o arroz, o feijão, o bife e a salada. E, por último, só para me agradar, vinha com aquela travessa de chuchu. Uma semana era a salada, fria no ponto, com muito sabor e gosto. Outra semana, era o virado. Misturado na medida certa com a farinha, descendo com gosto para o estômago.
Hoje, estranho quando alguém reclama de chuchu. Pior: não sabem fazer pratos com chuchu. Estranho porque quando vejo um chuchu eu só penso em como era tão simples e fácil para a senhora nos agradar e nos fazermos reis.
Simplesmente saboreando iguarias como um virado de chuchu.
Gilberto Hackmann /gilhackmann
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