Tenho escrito sobre a saudade de meus pais, evocando lembranças e episódios e refletindo sobre as lições que não percebi e que agora, tanto tempo depois, me trazem significados e alentos.
Porém, apenas alguns anos depois do luto é que a saudade e as lembranças conseguiram aflorar e romper a dor, o esquecimento e, principalmente, o cuidado para não mexer com sentimentos guardados e preservados. O tempo necessário para decantar a dor, evaporar o luto e trazer à tona a saudade e a memória. O tempo necessário para que aquilo que um dia foi vida se tornasse crônica e história.
Para Morrer Como Um Passarinho é um livro de crônicas, histórias reais de amor, cuidado e redenção no fim da vida escrito pelo querido Daniel Dornelas, publicado pela Oficina Raquel. Daniel é médico recém formado e atua na equipe de cuidados paliativos do SAD - Serviço de Atenção Domiciliar, financiado pelo SUS. Equipe de médicos, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, entre outros, que prestam atendimento domiciliar a pacientes com doenças terminais.
Daniel traduz cada visita a um desses pacientes em uma história de significados e aprendizados de situações e experiências de vida daqueles que estão a poucos dias de conhecer a morte, se despedir da vida, amigos e familiares. Com coragem e sensibilidade e muita empatia com os enfermos, Daniel traz a cada relato uma experiência que fala ao coração do leitor, oferecendo aprendizados para o sofrer e, principalmente, para não se esquecer de viver.
Lições de amor, paz e amizades. Enquanto os profissionais de saúde oferecem os cuidados paliativos, os enfermos retribuem com esperança, mansidão, resiliência e lições de conforto e gratidão.
Para Morrer Como Um Passarinho é um livro de desabafos de um médico que encontra na escrita um fio para compreender a finitude da vida e a limitação de recursos da medicina para vencer certas doenças. É um livro de alerta para a necessária manutenção e exaltação do SUS e de seus programas de saúde, que tantas vidas de brasileiros salva e cuida.
Para Morrer Como Um Passarinho nos alerta para a atenção que devemos ter em nos manter sensíveis e empáticos, cuidadosos e amorosos, atentos ao que nos acontece e ao que nos é oferecido pela vida, para a necessidade de simplificarmos os relacionamentos, afinarmos a compreensão e o respeito ao próximo e entendermos sobre a brevidade, a fragilidade e a finitude da vida, para que possamos, quem sabe, em nosso dia, ter a sorte e a bênção de morrer como um passarinho.
Comments